A REAL IMPORTÂNCIA DE ÓRION NOS EVENTOS FINAIS

A REAL IMPORTÂNCIA DE ÓRION NOS EVENTOS FINAIS

 

“A menção da Cidade Santa na descrição da visão de Ellen White (abaixo) é um parêntese na fala e confirma que ela está em realidade interpretando a visão, haja vista que, enquanto a visão em si trata dos eventos durante a Segunda Vinda de Cristo, A CIDADE SANTA SÓ DESCERÁ APÓS O MILÊNIO (Apo. 21) E NÃO PODERIA ESTAR DESCENDO DURANTE A VINDA DE CRISTO”.  

A nebulosa de Órion ocupa um lugar especial no coração Adventista. Desde 1848, quando Ellen White mencionou Órion no livro Primeiros Escritos, os Adventistas têm ansiosamente focado seus olhos, binóculos e telescópios para esse lugar no céu em busca de sinais e evidências da Segunda Vinda. A passagem em questão diz:

“A 16 de dezembro de 1848, o Senhor me deu uma visão acerca do abalo das potestades do céu. (…) Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A Santa cidade descerá por aquele espaço aberto”  (Vida e Ensinos pg 110, Primeiros Escritos pg 41).   

 

ANALISANDO O ESCRITO, NA VISÃO Júpiter tinha 4 luas (conhecimento corrente da época) enquanto hoje sabemos que Júpiter tem 63 luas. Saturno tinha 7 luas, novamente referindo-se ao conhecimento da época, enquanto hoje sabemos que Saturno tem 60 luas. É claro que Bates (que além de pioneiro foi astrônomo amador) não acreditaria nela se ela dissesse que Saturno na verdade tinha 60 luas. O uso de fontes e a influência de outros autores nos escritos de Ellen White em questões não essenciais são exemplificados no processo pelo qual passou a primeira edição do Grande Conflito (1888). Na sua segunda edição em 1911, o livro passou por uma revisão para corrigir algumas discrepâncias históricas. Esse processo foi liderado e impulsionado pela própria Ellen White:

"Quando me chegou a atenção que o livro o Grande Conflito deveria ser reimpresso, decidi que teríamos que examinar tudo minuciosamente a fim de estabelecer se as verdades ali contidas foram expressas na melhor maneira possível e para convencer aqueles que não são da nossa fé que o Senhor me guiou e susteve ao escrever essas páginas"[ White Estate, "The 1911 Edition of "The Great Controversy"An Explanation of the Involvements of the 1911 Revision", p. 8, disponível em www.EllenWhite.com. Segundo o seu filho Willie White, ela considerava o Grande Conflito como uma "expansão dos temas publicados no livro Spiritual Gifts, vol. 1 (1858) e Primeiros Escritos. Ellen White, "W. W. PRESCOTT AND THE 1911 EDITION OF The Great Controversy", p. 1, disponível em www.EllenWhite.com].

NOTE QUE ISSO NÃO DIMINUI EM ABSOLUTAMENTE NADA A VERACIDADE DO ESPÍRITO DE PROFECIA, POIS AS NECESSIDADES DE AJUSTES (os quais foram feitos por ela mesma) SÃO EM PONTOS NÃO ESSENCIAIS, QUE REPRESENTAM APENAS A FORMA COM QUE ERA POSSÍVEL EXPRESSAR A PROFECIA NA LINGUAGEM E NO ALCANCE DE COMPREENSÃO DOS PROFETAS E DOS OUVINTES DA ÉPOCA. Vemos esse princípio na Bíblia em algumas situações, Por exemplo Isaías disse que a Terra tinha "quatro cantos" (Isa. 11:12)[ A palavra hebraica para CANTO significa literalmente "EXTREMIDADE".  Hoje sabemos que a Terra, sendo redonda, não tem uma extremidade, mas este detalhe não era conhecido na época]. João, além de citar os mesmos quatro cantos (Apo. 7:1), descreve a Nova Jerusalém cercada de um muro e portas, algo que reflete a estrutura da Jerusalém que ele conhecia no primeiro século.

QUANDO DEUS SE COMUNICA PROFETICAMENTE ELE ADEQUA A PARTE ILUSTRATIVA DA COMUNICAÇÃO À REALIDADE DA ÉPOCA DO PROFETA. JÁ A INTENÇÃO DA PROFECIA, SEU OBJETIVO E SIGNIFICADO GERAL  É  APRESENTADA PELO PROFETA OU PELO ESCRITOR BÍBLICO DE FORMA INDUBITÁVEL PARA QUALQUER ÉPOCA A QUE  A PROFECIA SE REFIRA. A PARTE ILUSTRATIVA SE ADEQUA E SE APERFEIÇOA COM O TEMPO. O MESMO OCORRE COM ORIENTAÇÕES DOS AUTORES BÍBLICOS. A VERDADE DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS É ABSOLUTA E NÃO MUDA, MAS COSTUMES E ALCANCE DO CONHECIMENTO DE CADA ÉPOCA VARIAM NO DECURSO DO TEMPO. ASSIM COMO OCORRE COM A ADEQUAÇÃO À CULTURA DA ÉPOCA.  POR EXEMPLO:

1 Coríntios 14:34-35: “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”.

Note que no final do verso 34 aparece a expressão “como também ordena a lei”. Sabemos que não há nenhuma lei divina que proíba a mulher de falar na igreja ou de ter cargo na igreja. Então que lei é essa mencionada no verso? É UMA LEI DA CULTURA da época, com base nas civilizações gregas e romanas, que dizia que uma mulher não podia falar em público quando estivesse sob os cuidados de seu marido, ou pai ou irmão, senão o desonraria. TRATA-SE DE UM CONTEXTO HISTÓRICO. É UM CASO DE LEI CULTURAL da época, e não de um princípio bíblico. PAULO, PARA PODER PREGAR SEM TER PROBLEMAS, PEDIU QUE FOSSE RESPEITADA A CULTURA LOCAL. ENTÃO, A MULHER PODE E DEVE FALAR EM PUBLICO, PREGAR, TER CARGOS, NA IGREJA (assim como em qualquer outro lugar): Veja: “E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam” (Atos 21:8-9). ESTE VERSO MOSTRA MULHERES QUE PRFETIZAVAM. E SABEMOS QUE QUEM PROFETIZA, PROFETIZA EM PÚBLICO (observe que este verso está no novo testamento). Ver também o caso de Débora em Juízes 4:4-5.

 

ANALISANDO AS VISÕES

Entre 1846 e 1848, Ellen White teve três visões que  mostraram eventos no céu. A primeira ocorreu em novembro de 1846 em Topsham, Maine, na qual ela descreveu uma viagem pelo Cosmos onde viu planetas com suas luas. Presente ali estava o capitão e astrônomo amador, José Bates. Embora nenhum relato oficial exista sobre aquele episódio, sabemos através do relato de John Loughborough [John Loughborough, The Rise and Progress of Seventh-day Adventists, p. 125-127] e Ella Robinson (neta de Ellen White) [Ella Robinson, Histórias da Minha Avó, pp. 40-42] que foi Bates quem descreveu o que Ellen White viu em 1846. Quando ela mencionou um planeta com 4 luas, Bates disse, "Ela está vendo Júpiter!" Quando ela vê um planeta com 7 luas, Bates exclama: "Ela está vendo Saturno!"[ Tiago White comentando a visão baseia-se em Bates para dizer que ela viu "Júpiter, Saturno e um outro planeta." A Word to the Little Flock, p. 22].

Após isso, Ellen White descreve algo que se assemelha aos "céus que se abrem", que haviam interessado Bates há alguns meses . Segundo ele, a descrição de Ellen White desses "céus que se abrem" era a mais incrível que ele já tinha ouvido, especialmente porque ela lhe havia dito que nunca sequer havia consultado um livro de astronomia e não conhecia nada do assunto [Veja Vida e Ensinos, p. 88]. Bates concluiu: "Isso é obra de Deus!"[ John Loughborough, The Rise and Progress of Seventh-day Adventists, p. 125-127]. Como resultado, Bates passou a crer no dom profético de Ellen White. A VISÃO TINHA ENTÃO UM PROPÓSITO ESPECÍFICO: IMPRESSIONAR BATES A TOMAR UMA DECISÃO. Deus tinha um plano para ele pois foi um dos grandes pioneiros que introduziu a verdade do sábado para Ellen e Tiago White [Veja Francis Nichols, Ellen White and her Cristics, pp. 91-101].

A segunda visão ocorreu em dia 3 de abril de 1847 também em Topsham, Maine e tratou da Segunda Vinda (Veja Primeiros Escritos, p. 32-35). A descrição da visão é bastante similar à que estamos estudando porém, sem mencionar Órion: "Nuvens negras e pesadas se acumularam e se chocavam umas contra as outras. Mas havia um espaço claro de glória indescritível, de onde veio a voz de Deus como de muitas águas, a qual fez estremecer os céus e a Terra."(p. 34).

A terceira visão, cuja descrição contém a menção de Órion, foi recebida em Rocky Hill, Connecticut no dia 16 de dezembro de 1848.

 

Após 1844, alguns mileritas ensinavam que o abalo das potestades do céu não se referia ao nosso céu literal, mas simbolizavam as nações da Europa. O editor da revista milerita Day Star desafia: "Por que fitais os olhos ao céu; podeis discernir de onde Jesus está voltando?" Em parte, Bates escreveu seu panfleto sobre o "espaço aberto" em Órion por onde Jesus virá para refutá-los [ Veja Bates, "Opening Heavens", 11. Day Star citado por Bates sem referência]. É interessante que Ellen White se une a Bates contra esse erro confirmando que o que ela viu em visão acontece literalmente na atmosfera terrestre: “NUVENS NEGRAS E DENSAS SUBIAM E CHOCAVAM-SE ENTRE SI. A ATMOSFERA ABRIU-SE E RECUOU”.  Descrevendo a mesma cena em 1847, ela substitui "atmosfera" por "céus agitados", o que confirma que são os céus terrestres (e não uma suposta atmosfera em Órion).

 

Ao descrever a mesma cena no livro Spiritual Gifts, vol. 1, p. 205, publicado em 1858, Ellen White descarta Órion da interpretação e repete termos que usou em 1847 para descrever a vinda de Cristo por um "espaço claro de glória." A mesma terminologia é usada no livro O Grande Conflito (edições de 1888 e 1911), considerado o relato final e autoritativo por Ellen White dos eventos finais, onde ela descreve a mesma cena novamente sem a menção de Órion:

Nuvens negras e pesadas sobem e chocam-se umas nas outras. Em meio dos céus agitados, acha-se um espaço claro de glória indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas águas, dizendo: "Está feito." Apoc. 16:17. (GC 636).

Ellen White poderia ter incluído Órion na descrição do Grande Conflito mas não o fez, obviamente porque o suposto "espaço aberto" que em 1848 ela entendeu como Órion através de José Bates, agora deu lugar ao "espaço claro de glória indescritível". Note a diferença entre espaço "aberto" e espaço "claro"; parece que ela procura criar uma distinção entre sua interpretação anterior que tinha relação com o "espaço aberto" de Órion.

Nas palavras da própria Ellen White:

“COM FREQUENCIA ME SÃO DADAS REPRESENTAÇÕES QUE A PRINCÍPIO EU NÃO COMPREENDO, MAS DEPOIS DEALGUM TEMPO ELAS SE TORNAM CLARAS PELA REITERADA APRESENTAÇÃO DESSAS COISAS QUE A PRINCÍPIO EU  NÃOENTENDI, E DE CERTAS MANEIRAS QUE FAZEM COM QUE O SEU SIFNIFICADO SEJA CLARO E INCONFUNDÍVEL” (Carta 329, 1904; ME 3, 56).

Essa progressão do entendimento da revelação faz parte de um princípio articulado por Ellen White ao dizer que Deus revelou-se aos seres humanos levando em conta seu contexto e o momento de sua experiência:

...à medida que Deus, em Sua providência, via apropriada ocasião para impressionar o homem nos vários tempos e diversos lugares ... a fim de chegar aos homens onde eles se encontram... na linguagem dos homens. (ME 1, 19, 20).

 

Fica evidente que Ellen White não recebeu inspiração verbal. Ela teve visões em estilo de imagens estáticas rápidas [Mensagens Escolhidas, vol. 3, 447] e precisou interpretá-las e descrevê-las em sua própria linguagem como as havia entendido naquele momento. Em muitos casos ela também se valeu da linguagem de outros autores da época para expressar os pontos essenciais das visões. Com o passar dos anos, o Espírito Santo a fez entender essa visão (bem como outras visões) de maneira diferente, através de repetidas representações, o que posteriormente ela descreveu no livro Spiritual Gifts em 1858 e no Grande Conflito em 1888 sem citar Órion.

 

Ellen White interpretou o "espaço aberto" no céu como Órion somente em 1848 porque isso era o melhor que ela (através dos estudos de José Bates) conhecia sobre a relação entre astronomia e a Bíblia. Ao descrever a mesma cena no livro Spiritual Gifts, vol. 1, p. 205 (1858), Ellen White descarta Órion da interpretação e repete termos que usou em 1847 para descrever a vinda de Cristo por um "espaço claro de glória indescritível." A mesma terminologia é usada na primeira edição do Grande Conflito em 1888. Para todos os efeitos, Órion deixou de ter qualquer relevância para os eventos finais na interpretação de Ellen White já em 1858.

 

Fontes: André Reis, escritos de Ellen White, nosso texto “análise valorativa da mulher na Bíblia e na sociedade”, Bíblia

 

Valdir Antônio da Silva


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